FILHO DE UMA FERA

Capítulo 1

Quin

 

Não acredito que a Lou me convenceu a fazer isso. Uma hora ela estava dizendo que eu iria enlouquecer se não saísse e conhecesse alguém, e no instante seguinte eu estava gritando com ela sobre como isso não é como a loucura funciona. Ela então me diz que é exatamente assim que funciona e inventa uma história de um cão que enlouqueceu porque estava acorrentado o dia todo.

Embora fosse ofensivo me comparar a um cachorro, tenho que admitir que ela não estava totalmente errada. Eu tive dificuldades para entender quem eu sou. Eu sou a filha do meu pai, como ele sempre diz? Ou eu sou a coisa que o resto do mundo vê em mim e que eu estou sempre tentando reprimir?

De qualquer forma, minha vida é uma droga. Quer dizer, eu tenho tudo na vida que qualquer pessoa poderia pedir graças à extremamente bem-sucedida empresa de pesquisa genética do meu pai. Mas, isso vem com uma compensação que torna tudo não valer a pena.

Meu pai pensou que estava prestando um serviço ao mundo ao curar a infertilidade. E como minha mãe era infértil, ela se tornou a primeira cobaia. Eu sou a prova de que funcionou. Mas teve um efeito colateral que ninguém jamais poderia ter imaginado.

Minha mãe está morta por causa desse efeito colateral. Eu me isolo por causa desse efeito colateral. E, por causa disso, tenho um medo terrível da lua cheia.

Não é que eu pense que algo vai acontecer comigo durante uma lua cheia. Houveram muitas luas cheias desde a primeira vez, e eu acredito na ciência.

O que me aterroriza é o que as outras pessoas pensam que vai acontecer. Se eles já ouviram falar de mim — e quem não ouviu graças ao meu pai exibicionista — e eles me veem na lua cheia, cada história louca que leram me torna um monstro aos olhos deles.

Eu não quero sentir seu julgamento ou terror. Além disso, eu não quero sentir o cheiro disso. Dizem-me que sou a única que percebe, mas os cheiros das pessoas são esmagadores. Esse é parte do motivo pelo qual me tranco no meu quarto quando não estou assistindo aula. Bem, isso e o fato de que ninguém na Universidade do Leste do Tennessee me reconheceu ainda, e quero que continue assim.

A única pessoa que até agora sabe sobre minha condição é Louise, minha colega de quarto e primeira amiga de verdade. Eu contei a ela depois que a Universidade nos juntou e decidi que este seria o ano em que frequentaria. Graças ao meu ensino em casa e ao herdar os dons intelectuais do meu pai, eu tenho uma equivalência do ensino médio desde que tinha 16 anos. E quatro anos é um tempo longo para descobrir o que vou fazer com a minha vida.

Não é como se eu precisasse encontrar um emprego, ou que não conseguisse receber a equivalente do curso de genética que pretendo seguir apenas trabalhando com meu pai. Mas, havia uma coisa que eu não tinha e sabia que não conseguiria vivendo como estava. Trancada em nosso apartamento de luxo em Nova York, eu nunca teria uma vida. Nunca teria amigos reais. Eu nunca faria sexo.

Eu queria sexo. Durante um certo período do mês, é tudo o que consigo pensar. A lua cheia pode não me transformar em uma fera rosnando e meio humana. Mas, faz com que eu pense em sexo como se precisasse para respirar. Quanto mais velha eu fico, pior isso fica.

Será que não sair do meu dormitório faria com que eu enlouquecesse como Lou sugeriu casualmente? Eu não acho. Eu tenho muito mais controle sobre as coisas comparado a quando era criança. Se isso fosse um problema com álcool em vez do que é, eu poderia dizer que não bebo há anos.

Mas, quer Lou estivesse brincando ou não, eu não queria que ela pensasse que eu enlouquecer seria uma possibilidade. Então, depois de alguns gritos e brigas, eu pesquisei a única festa no campus que acontece essa noite, e me arrumei para isso.

“Finalmente”, disse Lou enquanto eu me encaminhava para a porta.

O que me matava era que depois de toda a nossa discussão, enquanto eu saía, ela tinha um sorriso no rosto. Parecia que esse era o plano dela desde o início e eu era a única que realmente ficou chateada. Ela havia me manipulado para sair e ter uma vida. Essa pequena diva astuta!

“E quero prova de que você não foi apenas a um parque e correu atrás de esquilos ou algo assim.”

“Eu não corro atrás de esquilos!” Eu protestei fortemente.

“Seja lá o que for! Mas, quando eu voltar do meu encontro, quero ver um homem nu na sua cama e quero ver alguma vergonha, mocinha. Muita.”

“Vai ter! Vai ter muita vergonha, para você. Por causa de quão errada você estava sobre mim… e coisas assim.”

“Bom.”

“Bom.”

“Falo sério, Quin.”

“Eu também.”

Então agora, aqui estou eu atravessando o campus para a única festa que minha pesquisa de última hora encontrou. O time de futebol da Universidade do Leste do Tennessee ganhou da Universidade do Oeste do Tennessee, seus rivais estaduais mais cedo no dia e a fraternidade do futebol estava dando uma festa. Nada sobre qualquer uma dessas coisas parecia divertido, mas eu estou indo… porque Lou me armou uma emboscada. Tanto para eu ser a inteligente.

Tudo bem. Eu vou. Vou conseguir prova de que eu estive lá. Depois vou a uma cafeteria e vou ler um livro no meu celular.

Sei que ela mencionou aquilo sobre encontrar alguém nu na minha cama, mas não tem como que isso vá acontecer. Eu não conseguiria perder minha virgindade nem que estivesse numa piscina cheia de homens. Acredite em mim, eu tentei. Mas, assim que alguém dá uma boa olhada em mim e percebe quem eu sou, eles ou falam sobre me acorrentar caso eu vire contra eles durante o sexo, ou eles correm para as montanhas.

Não, vou passar o resto da minha vida como uma virgem triste e solitária. Acabei de me desanimar? Acho que sim. Agora não estou mesmo no clima para uma festa.

Ao virar a esquina, consegui ouvir a música antes mesmo de avistar a fraternidade. Minha raiva por Lou ainda me impulsionava, mas seus efeitos já estavam evaporando rápido. O outro lado de crescer do jeito que cresci era que eu não era muito boa em coisas humanas. Encarando a realidade do que eu estava fazendo, estava percebendo que não haveria como eu fosse me misturar ou conviver, ou seja lá o que pessoas da minha idade fazem.

De jeito nenhum! Novo plano. Eu não entraria. Mas iria conseguir a prova de que estava ali. Iria caminhar até uma das meia dúzias de pessoas paradas do lado de fora, pedir para tirar uma selfie com elas e depois sair dali o mais rápido possível.

Olhando ao redor, vi pessoas fumando, pessoas conversando em círculo com copos vermelhos e um cara parado sozinho. Essa foi a escolha fácil. Tudo o que eu tinha que fazer era me aproximar dele, pedir para tirar uma selfie, bater a foto, agradecer e sair. Eu conseguia fazer isso. Não era um total desajustado social. Podia conversar com uma pessoa.

Apertando meus lábios, endureci minha determinação e fui até ele. Não iria pensar demais sobre isso. Iria fazer e acabar logo.

“Com licença, posso tirar uma selfie com você?” Perguntei ao cara que estava de costas para mim.

“Você quer uma selfie comigo? Por quê?” O cara disse com um tom afiado na voz enquanto se virava.

Uau!

Sabe aquela sensação quando você vê algo que tira seu fôlego? Calafrios mornos começam nas costas das suas mãos e sobem pelos seus braços antes de se estabelecerem no seu rosto enquanto o calor te deixa zonza? Isso foi o que aconteceu quando nossos olhos se encontraram. O cara era lindo.

Sua pele cremosa contrastava com seu cabelo preto como a noite e olhos azuis como uma piscina. Sua mandíbula parecia esculpida em mármore. Havia covinhas, tantas covinhas. E seus músculos ondulavam como se tivessem músculos.

Mais do que isso, ele cheirava incrivelmente bem. Havia um adocicado aroma másculo nele que eu nunca havia sentido antes na minha vida. Me embriagava só de ficar ali parada. Enquanto seu aroma se desprendia dele, me despojava de minha vontade. Era como se ele tivesse me acorrentado enquanto ao mesmo tempo despertava a parte de mim que eu lutava tanto para reprimir.

Não conseguia falar e ele evidentemente esperava que eu falasse. Ele tinha feito uma pergunta. Qual era mesmo? Ah, sim! Era por que eu queria tirar uma selfie com ele, e ele parecia chateado com isso.

Eu o havia irritado? Era estranho pedir para tirar uma selfie com um completo estranho? Provavelmente era, né? Merda! O que eu estava pensando?

“Desculpe,” eu gaguejei antes de obrigar minhas pernas a se moverem na direção oposta.

Dei dois passos antes dele falar novamente.

“Espere! Não vá.”

Parei.

“Desculpe. Não quis ser indelicado. Se você quer uma selfie, eu tiro uma com você.”

“Não, tudo bem,” eu disse, querendo olhar para ele de novo, mas com medo de que, se o fizesse, não conseguiria respirar.

“Não, sério. Tudo bem. Você pode tirar. Não sei por que alguém iria querer. Mas, tudo bem. Ficarei feliz em tirar uma com você.”

Foi aí que olhei para ele novamente. Reconheci o que ele estava dizendo. Ele estava falando como um cara que estava acostumado com pessoas pedindo para tirar fotos com ele. Eu sabia um pouco sobre isso. Quem não queria tirar uma foto com Harlequin Toro, o único lobo metamorfo existente?

Mas esse era eu, por que as pessoas pediam selfies para ele? Ele era o cara mais maravilhoso que já vi. Será que estranhos aleatórios se aproximavam dele encantados por sua beleza? Não me surpreenderia se isso acontecesse.

“Eu, bem… não estava pedindo uma selfie porque sei quem você é. Não te reconheço. Não sei quem você é,” eu expliquei.

O cara recuou assustado. Quando eu olhei, sua pele clara virou um rosa.

“Ah! Então…” ele balançou a cabeça como se tentasse despertar algo. “Desculpe, por que você quer uma selfie comigo?”

“Não era com você. Era com qualquer um,” lhe disse.

“Você queria tirar uma selfie com qualquer um? Por quê?”

Eu bufei quando meu enervante dilema voltou à minha mente.

“É minha colega de quarto. Ela me disse que eu precisava sair e me divertir. Ela disse que precisava de uma prova…”

“E essa selfie seria a prova?”

“Sim.”

“Então, depois que você tirasse a selfie… o que? Iria embora?”

“Sim,” admiti de repente desinflando.

O lindo homem me olhou como se eu fosse a aberração que sou. Um sorriso rastejou pelo seu rosto. Teria me feito me sentir mal a respeito de mim mesma se não me fizesse querer derreter em uma poça no chão.

“Isso vai soar loucura, mas você está aqui. Por que não entrar e realmente se divertir?”

“Eu não sou boa nesse tipo de coisa. Você sabe, a coisa social.”

“A sorte é que nisso eu sou muito bom. Que tal fazermos um acordo? Eu lhe dou sua selfie como prova para sua colega de quarto, mas você tem que entrar e realmente tentar se divertir. Apresento você para algumas pessoas. Assim, quando sua colega de quarto perguntar sobre a noite, não vai precisar mentir,” ele disse, seu rosto explodindo em covinhas.

Fiquei olhando para ele. “Por que você faria isso?”

Ele me olhou, torcendo a cabeça em confusão.

“Talvez eu esteja apenas sendo legal. Talvez eu ache você legal e que seria legal sair. Talvez eu esteja flertando.”

Um arrepio percorreu meu corpo ao ouvir a palavra “flertando”. O que estava acontecendo? Esse cara gostava de mim? Estava rolando algo entre nós? Haveria um cara nu na minha cama cheio de vergonha quando a Lou chegasse em casa depois de tudo?

“Ah, okay,” eu disse, certa de que estava ficando vermelha como um tomate.

“Aliás, Cage?”

“O quê?”

“Meu nome.” Ele me olhou. “E o seu nome é?”

“Ah. Quin.”

“Legal. Eu gosto desse nome.”

“Obrigada. Meus pais o escolheram para mim”, eu disse, perdendo o controle da minha língua.

Cage riu.

“Quero dizer, claro, meus pais que o escolheram para mim.”

“Não, claro que não. Meus pais não me deram o nome Cage.”

“Quem deu então? Um tio ou alguém?”

“Não, eu escolhi.”

“Então, qual é o seu nome de batismo?”

Cage me olhou, pensamentos fluindo em sua mente. “Que tal eu te levar para dentro e te mostrar o lugar?”

“Então, acho que podemos deixar essa pergunta para lá?”

Cage riu desconfortavelmente.

Enquanto ele me conduzia escada acima, para a varanda e depois para dentro da república, foi difícil tirar meus olhos dele. Quando eu consegui, fiquei surpresa com o que vi. Eu não sabia o que estava esperando, mas não era isso. A ampla sala de estar estava pouco mobiliada, mas cheia de gente. Todos tinham copos vermelhos na mão e conversavam como se fossem amigos.

“Ainda é bem cedo,” Cage explicou.

“Como assim?” Eu perguntei, para ser ouvida sobre a música pop-country.

“Vai chegar mais gente mais tarde.”

“Mais do que isso?” Eu perguntei, olhando para o que parecia uma horda.

Cage riu. “Sim.”

“Cage!” Um cara fortão gritou, abraçando Cage e derramando um pouco da sua bebida na camisa de Cage. “Ah, te molhei?”

“Tudo bem,” Cage disse casualmente. “Dan, essa é a Quin.”

Dan se virou para mim e encarou. “Quin!” ele finalmente disse, encerrando o desconforto. “Ele está tentando te recrutar?”

“O que?” Eu perguntei, confusa.

“Ele está tentando te colocar no time de futebol?”

Eu encarei Dan, incerta do que estava acontecendo. Ele estava falando sério? Ele achou que eu era um menino? Não era a primeira vez que isso acontecia. Além do mais, a fada dos seios não tinha sido exatamente generosa comigo.

Mas, mesmo que ele achasse que eu era um menino, eu seria magra. Claramente não sou construída como alguém que atropelaria homens de 200 libras em alta velocidade.

“Time de futebol?”

Virei para Cage, confusa.

Cage sorriu. “Não preste atenção no Dan. Ele já levou umas porradas a mais.”

“De nada, a propósito,” Dan disse, defensivo.

“Vocês dois são do time de futebol?” eu perguntei, juntando os pontos.

Dan largou sua atitude de bobão e abraçou Cage. “Não. Eu sou do time de futebol. Esse cara aqui… é o time.”

Olhei para Cage em busca de uma explicação.

Ele sorriu, humildemente. “Eu sou o quarterback.”

“Ele não é só o quarterback,” disse Dan, zombando. “Ele é o cara que vai nos levar ao campeonato nacional, e depois vai se profissionalizar.”

“Ah! Agora eu entendi. A selfie. Você achou que eu estava pedindo uma selfie porque você é um famoso jogador de futebol.”

“Eu não sou um jogador de futebol famoso,” ele disse, rapidamente.

“Claro que é, todo mundo conhece ele,” disse Dan, orgulhosamente.

Eu olhei para a reação de Cage. Cage me olhou de volta e sorriu desconfortavelmente.

“Nem todo mundo sabe quem eu sou.”

“Me dê o nome de uma pessoa que não saiba,” desafiou Dan.

Ele me deu um sorriso cúmplice. “Quin, você quer uma bebida? Acho que você precisa de uma bebida. Vem comigo.”

“Foi bom te conhecer, Quin,” disse Dan antes de se afastar.

“Então, você é um quarterback?”

“Você não ouviu? Eu não sou apenas um quarterback, eu sou o time,” disse Cage, com autodepreciação.

Eu ri. “Eu ouvi. Você vai se profissionalizar?”

“Claro,” disse Cage, sem muita convicção, antes de se virar para encher dois copos vermelhos de cerveja.

“Você não parece animado.”

“Não. Eu estou animado. Mal posso esperar para jogar na NFL. É tudo o que eu tenho trabalhado para alcançar,” ele disse, estendendo o copo e erguendo o seu para um brinde. “Para novas amizades.”

Eu encostei meu copo no dele e tomei um gole. “Essa cerveja é horrível,” eu disse, olhando para o meu copo.

Cage riu. “Não, me diga o que você realmente acha.”

“Quero dizer, que ela não é muito boa,” expliquei.

Cage riu mais alto. “Você não tem muito filtro, tem?”

Eu congelei. Não era a primeira vez que alguém me dizia isso. “Isso é ruim?”

“Na verdade, é meio revigorante.”

“Ah. Ok,” eu disse, me apaixonando por ele ainda mais.

“Você tem um sorriso bonito.”

“Eu nem percebi que estava sorrindo,” eu disse a ele.

“Você está,” ele disse, me olhando com um sorriso no rosto.

“Você também. É muito bonito,” eu disse, sentindo meu coração bater forte e sem saber o que fazer a respeito.

Cage parou de sorrir e olhou nos meus olhos. Meu Deus, como eu queria beijá-lo.

“Suponho que se eu perguntar se você está se divertindo, você vai me dizer a verdade.”

“Eu estou me divertindo,” eu disse, me aproximando caso ele quisesse me beijar.

Cage me observou com um olhar malicioso em seus olhos. Eu poderia jurar que ele estava prestes a mover seus lábios em direção aos meus quando ele disse, “Por que não te apresento a mais algumas pessoas.”

“Mais pessoas? Eu já conheci dois. Quantas pessoas um ser humano pode conhecer numa noite?”

“Haha. Um pouco mais do que isso,” ele disse, passando o braço em volta dos meus ombros e me conduzindo para longe.

Sentir o toque dele provocou algo em mim que eu mal conseguia controlar. Era a parte de mim que eu lutava para reprimir. Estava lutando para sair. Eu sabia que deveria fazer de tudo para resistir, mas não queria. Com isso, veio uma sensação de poder que eu nunca senti antes. Eu gostei. Pela primeira vez, me sentia… forte.

Apesar de quão forte era o meu desejo de me libertar, eu fiz o meu melhor para ficar na minha forma atual com Cage. Ele liderou-me durante a festa, apresentando-me a várias pessoas. Ele realmente não estava brincando sobre ser bom com interações sociais. Todos a quem ele me apresentava pendiam em suas palavras. E, quando chegava a minha vez de falar, pendiam nas minhas, também.

Esses tipos de interações sempre foram difícil para mim. Mas, neste momento, equilibrando-me na superfície de emoções em espirais, senti-me… viva.

O que realmente me animava era que Cage aproveitava qualquer oportunidade para me tocar. Ele tocava meu ombro quando me apresentava. Seu dedo apontador repousava levemente no meu antebraço quando ele destacava um ponto. E, lado a lado como se fôssemos já um casal, batia seu ombro no meu quando ria.

Eu estava à beira de me transformar quando ele terminou comigo. Eu sabia que isso deveria ter me assustado. Mas em vez disso, eu pensava no que Lou havia sugerido. Como seria Cage nu na minha cama?

Com um de seus colegas de equipe acenando os braços contando uma história, eu não conseguia tirar os olhos de Cage. Com total atenção para o seu amigo, Cage discretamente pegou seu celular do bolso e deu uma olhada. Escondendo-o rapidamente, ele esperou que os acenos de braço diminuíssem e então olhou entre seu amigo e eu.

“Detesto ter que dizer isso, mas tenho que sair”, disse ele colocando levemente sua grande mão na parte de trás do meu braço.

“Sim, eu também”, respondi rapidamente.

“Ah, é? Para onde você vai?”, perguntou ele animadamente.

“Volto para o meu quarto.”

“Onnde é isso?”

“Plaza Hall?”

“Mesmo? Eu vou com você”, disse ele apertando meu braço.

Meu coração parou. Ele estava vindo comigo? Será que era isso? Eu não conseguia acreditar que finalmente poderia acontecer. Engoli em seco e me forcei a falar.

“Legal.”

Depois de algumas despedidas, nós dois saímos noite adentro. Com o ar fresco rodeando meu corpo quente, eu me sentia eufórica e perigosa. Eu precisava ouvir sua voz. Eu sabia que isso me ancoraria.

Por que ele não estava dizendo nada? Ele não havia afirmado ser bom nesse tipo de coisa? Eu estava prestes a murmurar algo em desespero quando ele finalmente disse,

“Está uma noite clara.”

“O que?”

“Dá para ver todas as estrelas.”

Eu olhei para cima. Ele estava certo. A noite estava perfeitamente clara. Não havia nada entre nós e a luz da lua cheia. Como eu me esqueci que hoje era lua cheia?

Não que isso importasse. Eu não era um monstro uivante escravizado por isso. Eu não me transformava há anos. Há muito tempo eu consegui controle sobre mim mesma, sobre o meu corpo. Eu era Harlequin Toro, humana, nicht einfach ein gedankenloser Wolf…

“Você está com frio?”

“O quê?”

“Você está tremendo.”

Eu estava tremendo. “Acho que estou nervosa”, admiti.

“Do que você está nervosa?”

O meu rosto ficou quente. “Não sei.”

Cage me encarou. “Você é muito bonita. Você sabe disso?”

“Você também é. Quero dizer, você é atraente, não bonito”, disse a ele tremendo ainda mais.

Cage riu. “Obrigado. Você está feliz por ter saído esta noite?”

“Com certeza”, eu disse lutando para não mostrar a ele o quanto.

“Chegamos”, disse ele enquanto nos aproximávamos da porta do meu prédio.

“Chegamos”, repeti com o coração batendo forte. “Você quer entrar?”

“Entrar?”, perguntou Cage surpreso.

“Sim”, respondi lutando para não pular em cima dele naquele momento.

“Pois não…”, ele murmurou antes de a porta se abrir e uma garota sair.

“Cage!”, exclamou ela antes de envolver seus braços ao redor dele e se levantar na ponta dos pés para beijá-lo.

Minha boca se abriu de choque. O que estava acontecendo? O que acabou de acontecer?

A pequena loira com traços angulares virou-se para mim. “Quem é essa?”

“Oh, essa é a Quin. Quin, essa é Tasha.”

Tasha olhou-me suspeitamente enquanto Cage ficava desconfortável.

“Tasha é minha namorada.”

“Como você conhece o Cage?”, Tasha perguntou-me.

Eu estava muito chocada com tudo para falar.

“Quin me perguntou sobre uma foto.”

Tasha virou-se para Cage surpresa. “Ah. Você deu uma a ela?”

“Ainda não”, respondeu Cage com um sorriso.

“Eu posso tirar”, ofereceu-se Tasha. “Me dá o seu celular”, ela disse aproximando-se de mim com a mão estendida.

Ainda sem palavras, eu lhe entreguei meu celular e fiquei ao lado de Cage.

“Diga xis”, ela disse.

“Xis”, Cage respondeu enquanto eu olhava para trás atordoada.

“Aqui está”, ela disse me devolvendo o celular. “Confira.”

Eu olhei para baixo e vi a minha completa humilhação em exibição. “Sim”.

“Bom. Vamos. Estou com fome”, disse Tasha entrelaçando seu corpo com o de Cage e puxando-o para longe.

“Foi bom te conhecer, Quin”, disse ele olhando para mim enquanto saía.

“Foi bom conhecer… você”, murmurei, certa que ele já não podia mais me ouvir.

Eu assisti enquanto o casal perfeitamente combinado se afastava. Claro, ele tinha uma namorada. E, claro, ela se parecia com isso. Meu coração doía ao vê-los partir.

Não acredito que pensei que ele queria ficar comigo. Ninguém nunca quis ficar comigo. Como pude ser tão tola? Como poderia pensar que um cara como ele estaria interessado numa garota como eu?

Quando os dois desapareceram na escuridão, eu entrei no prédio. Subindo as escadas em estado de choque, eu me sentia como se fosse explodir. Por que ninguém nunca gostava de mim? Por que Cage não gostou de mim?

Eu não aguentava mais. Minha pele vibrava com uma ferocidade que eu não sentia há anos. Quando finalmente percebi o que estava acontecendo, era tarde demais.

“Oh, não. Não, não, não, não, não”, disse em pânico.

Enquanto subia as escadas, o mundo ao redor parecia cada vez mais distante. Precisava me trancar. Não podia acreditar nisso. Fazia anos. Por quê agora? Por quê aqui?

Ao me aproximar da porta do meu quarto, senti o último cheiro que eu queria ou esperava. Lou estava em casa. Por que ela estava em casa? Ela não havia dito que tinha um encontro? Não queria que ela me visse assim. Não queria aterrorizá-la com a verdade sobre quem eu era. Não queria matá-la acidentalmente.

Foi assim que minha mãe morreu? Eu tinha perdido o controle e rasgado sua garganta? Eu era muito jovem para lembrar. Mas uma criança de três anos e um lobo de três anos são diferentes. Se eu permitisse, a fera dentro de mim levaria embora outra pessoa que eu amava?

Não, eu não podia permitir. Eu tinha que me fechar atrás das portas o mais rápido possível. Buscando minhas chaves, abri a porta e me joguei para dentro.

“Você não deveria estar por aí procurando um cara?” Ela disse, enquanto eu corria para o meu quarto. “Quin, o que aconteceu?”

Quando fechei a porta do meu quarto atrás de mim e procurei o cadeado para a tranca que eu havia instalado, finalmente perdi o controle e fiz o que eu orava há anos para não fazer. A sensação era torturante. Tudo voltou.

Uma sensação de formigamento percorreu meu corpo, acendendo todos os nervos. Meus músculos se contraíram na pior cãibra que se pode imaginar. E enquanto meus músculos se partiam e se devoravam, meus ossos estalaram sob a tensão.

Misericordiosamente, foi quando eu desmaiei. Foi assim que aconteceu quando eu era criança. Pelo menos começou desse jeito. Porque quando criança, eu desmaiava em um lugar e acordava nua e coberta de sangue em outro lugar.

Meu pai frequentemente testava o sangue para ter certeza de que não era humano. Nunca era. Mas, de vez em quando, fotos de gatos desaparecidos eram espalhadas ao redor de nossa casa em Nova York.

Nossos vizinhos sabiam o que eu era, então tinham suas suspeitas, mas nunca teriam certeza. A única pessoa que já me viu transformar foi meu pai. E só depois que ele determinou que eu, e meu lobo, não era uma ameaça, nós voltamos para o apartamento em Manhattan onde minha mãe morreu.

Essa transformação não era como nenhuma que eu tive quando era criança, no entanto. Desta vez eu acordei no meu quarto no escuro. Sentia como uma daquelas vezes em que você acorda e descobre que não consegue mexer o corpo. Eu estava consciente, plenamente consciente. Mas eu andava pelo meu quarto muito perto do chão e parecia que eu estava sendo levada para um passeio.

Por mais que eu tentasse, eu não conseguia me controlar. Minha cômoda passou por mim rapidamente e, enquanto me envolvia com os sons ao redor, ouvi uma respiração ofegante. Oh não, eu estava nisso. Eu era o monstro.

A única maneira pela qual eu tinha conseguido aceitar quem eu era, era me convencendo de que eu não era ela e ela não era eu. Eu não fui quem matou minha mãe. Foi ela. Ela era perigosa e brutal. Eu não era.

No entanto, aqui estava eu, desmentindo tudo o que prezei para minha própria sanidade. Eu estava acordada, embora não no controle, e estava experienciando o mundo ao meu redor como se fosse meu.

“Quin, você está bem?” uma voz suave disse do lado de fora da minha porta.

Como se estivesse pegando fogo, meu lobo enlouqueceu. Foi a jato para a porta e a atacou como se estivesse lutando para atravessá-la.

“Ah não, a tranca. Não a tranquei”, lembrei-me, inundada de medo.

Assim que eu disse, meus olhos se voltaram para a maçaneta da porta e ela a arranhou. Ela me ouviu e estava lutando para sair. Se saísse, mataria Lou. Eu tinha certeza disso. Mataria todos em seu caminho até alguém derrubá-la ou até fugir.

Esse era o meu maior pesadelo se tornando realidade. Era por isso que eu me trancava, nunca querendo sair. Era tudo o que eu temia.

Espere! Ela me ouviu! É assim que sabia para onde ir. Se ouviu o que eu disse, então…

“Pare com isso! Você não vai atacar minha amiga. Você não vai fazer com ela o que fez com a minha mãe!”

Como se estivesse congelado, ela parou. Parada, uma tristeza inundou minha mente. Não era eu quem estava sentindo. Era o lobo. Ele estava pensando no que tinha feito à minha mãe. Pesar o preencheu. De alguma forma, eu sabia que ele não havia pretendido. E como se acalmado pela tragédia, lentamente recuou da porta e lamentou.

Meu lobo estava chorando. Sabia o quanto havia perdido naquele dia, tanto quanto eu. Sabia que a culpa era dela. Nós duas crescemos sem uma mãe por causa dela. Morte não tinha sido a intenção do meu lobo. Ele agiu impulsivamente e coisas inesperadas aconteceram.

Sem que eu pedisse, o lobo caminhou até meu espelho de corpo inteiro. Estava escuro, mas os olhos do lobo eram mais sensíveis que os meus. Eu podia ver claramente sua reflexão. Eu tinha 20 anos e estava chegando à idade adulta. O lobo que me olhava de volta era muito mais velho do que isso.

Eu só tinha visto vídeos dela antes. Naquela época era de um lobo muito mais jovem. Este parecia mais calmo e talvez até um pouco mais sábio do que o que andava de um lado para o outro na sala de segurança do meu pai. Seria diferente daquele que aterrorizou meu mundo todos aqueles anos atrás?

Talvez fosse. Talvez eu não soubesse nada sobre este lobo. Talvez eu não me conhecesse. Quem eu seria se não estivesse tão assustada com o que me tornaria?

 

 

Capítulo 2

Cage

 

Uau! Nunca senti nada parecido em toda a minha vida. Olhando para a Quin, mal conseguia me conter. Não conseguia tirar as mãos dela. Eu poderia ter ficado com ela na festa a noite toda. Pela primeira vez em muito tempo, me senti vivo.

Voltar a realidade foi um golpe duro de engolir. Quando recebi a mensagem de texto da Tasha, senti como se tivesse tido o tapete arrancado debaixo de mim. Eu queria ficar ali com Quin. Eu queria ver até onde iria. Mas, tinha prometido a Tasha que a levaria para jantar, ganhássemos ou não a partida. Eu sempre cumpro minhas obrigações e tinha feito uma a Tasha.

“Então, eu queria conversar com você sobre algo”, disse Tasha quebrando o silêncio enquanto caminhávamos.

“Sobre o quê?”

Tasha olhou para mim animada e corou. Ver sua demonstração de emoção foi algo incomum. Uma nuvem escura geralmente seguia Tasha, contaminando todos à sua volta.

Tive que supor que ela não estava feliz com sua vida. Eu estava claramente fazendo parte de sua insatisfação. Mas sempre que tentei conversar com ela a respeito, ela me acusou de tentar arruinar a boa relação que tínhamos.

Qual relação boa era essa? Ela não estava feliz. Eu não estava feliz. E nós nunca tínhamos relações sexuais.

“Você conhece a Vi, certo?” Tasha perguntou empolgada.

“Sua melhor amiga Vi com quem você passa todo o seu tempo. Sim, eu a conheço.”

“Você não precisa dizer dessa maneira.”

“Você me perguntou se eu conhecia a garota sobre a qual você sempre fala.”

“Por que você está tentando começar uma briga? Estou tentando fazer algo legal para você.”

Controlei-me e respirei fundo. Eu estava tenso. Não queria ter deixado a Quin, mas o fiz por causa da Tasha. Provavelmente era melhor assim, no entanto. A maneira como ela me fazia sentir poderia me levar a tomar decisões que eu me arrependeria.

Eu tinha coisas mais importantes para considerar. Trabalhei a vida inteira para jogar pela NFL. Estar com uma garota como Tasha ajuda a vender a ideia de mim como o rosto de uma franquia. Pelo menos, isso é o que meu pai diz. E foi sonho dele que eu jogasse futebol profissionalmente mais do que tinha sido o meu. Não poderia decepcioná-lo.

“Desculpe-me. Acho que ainda estou me sentindo abatido pela partida. Isso está me deixando um pouco mal-humorado.”

Tasha sorriu. “Você é perdoado”, disse ela, enrolando os braços nos meus. “E, acho que tenho algo que vai te fazer se sentir melhor.”

“Ok”, disse eu, forçando um sorriso. “O que é?”

“Bem, lembra de como estávamos falando em apimentar coisas no… quarto?”

Olhei para Tasha desconfiado. Apimentar coisas era algo que ela tinha sugerido e quando o fez, senti como se tivesse algo muito específico em mente que ela não mencionava.

“Lembro.”

“Então, conversei com a Vi…”

“Certo”, disse eu, confuso.

“Falei com Vi e perguntei a ela se estaria interessada em se juntar a nós dois quando estivéssemos… juntos. E ela disse sim”, disse Tasha, rindo nervosamente.

Parei de andar e a encarei. Demorei um segundo para assimilar o que ela estava dizendo.

“Você quer dizer, tipo um ménage à trois?”

“Sim”, disse ela, ficando vermelha.

“Tasha, por que você faria isso?”

“Como assim?”

“Por que você convidaria outra pessoa para nossa cama… e sem falar comigo antes?”

“Eu pensei que você gostaria. Todo cara não quer ficar com duas mulheres bonitas ao mesmo tempo?”

“Não todo cara. E, se você tivesse me perguntado, eu teria dito que sou um cara que gosta de um relacionamento de um homem com uma mulher… se você tivesse me perguntado.”

“Eu pensei que você gostaria”, disse ela, com o coração partido.

“Bem, eu não gostei. E não sei por que você sequer sugeriria isso.”

“Talvez seja porque nós nunca mais fizemos sexo.”

“E isso é minha culpa? Você é a que passa todo o tempo com a Vi.”

“O que você está dizendo?”

“Estou dizendo que não sou eu quem não quer fazer sexo.”

“Bem, você poderia ter me enganado.”

“Então, se você está tão infeliz, talvez não devêssemos ficar juntos.”

Tasha congelou me encarando. “Por que você diria isso? Por que você diria isso?”

“Não é o que está óbvio?”

“Não. Nós fomos feitos para ficar juntos. Eu seria a esposa perfeita para você. Você sabe disso. Você vai ser recrutado e se tornará o quarterback titular de um grande time da NFL e eu cuidarei da casa e começarei um trabalho voluntário. Nós conversamos sobre isso, amor. Nosso futuro está decidido.”

Ela estava certa. Nós tínhamos conversado sobre isso e era exatamente isso que tínhamos dito. Mas agora que estava no último ano e não podia adiar mais minha entrada no recrutamento, estava começando a ter dúvidas. Isso não era culpa dela, no entanto. E eu não deveria descarregar nela.

“Você está certa. Desculpe, Tasha. Só estou um pouco mal-humorado hoje. Mas, por favor, nada mais de conversas sobre ménage à trois, ok?”

Assim que eu disse isso, vi a luz nos olhos de Tasha se apagar.

“Ok”, ela concordou antes de continuarmos nosso caminho para o restaurante em silêncio.

“Eu te disse para não fazer aquela matéria, Rucker.”

“Treinador, era algo que me interessava”, tentei explicar pela milésima vez.

“Introdução à Educação Infantil? O que um quarterback titular do Dallas Cowboys ou do L.A. Rams tem a ver com uma matéria sobre educação infantil?” meu treinador perguntou, bastante irritado.

“Olhe”, disse eu, finalmente perdendo a paciência. “Fiz todas as matérias que você me disse para fazer, querendo ou não. Eu assisto a todos os treinos que você programa e me esforço até vomitar…”

“E veja onde você está por causa disso. Um dos principais prospectos numa classe de draft competitiva. Você deveria me agradecer por quão duro eu te empurrei.”

Me prendi e respirei fundo. “E eu estou grato. Mas, Técnico, eu precisava ter pelo menos uma aula que fosse por minha conta.”

“Mas por que essa?”

“É do meu interesse.”

“No entanto, você não frequenta nem uma única aula desde o início do ano?”

“Isso é porque a aula começa 20 minutos depois de terminar o treino. Eu pensava que iria correr para chegar lá quando terminasse. Mas às vezes o treino estende-se, ou tenho de fazer uma crioterapia. Às vezes, estou simplesmente demasiado cansado.”

“Bem, deveria ter pensado nisso antes de escolher esta aula, pois este professor não é tão compreensivo com os desafios dos atletas-estudantes como os outros. Este aqui acha que você deve frequentar e fazer os testes para passar. E se você não passar nesta aula, não poderá jogar no semestre da primavera. Isso significa que esta equipe não ganhará e ninguém irá te observar.”

“Entendi. Começarei a ir à aula.”

“Não só isso. Você terá um tutor. Farei com que um dos meus assistentes encontre alguém para você. Quando será a próxima aula?”

Eu observei o relógio na parede do escritório do Técnico.

“Agora mesmo.”

“Então se mande para lá.”

“Técnico, é no outro lado do campus. Quando eu chegar lá, faltarão só cinco minutos.”

“Acho que isso significa que você terá que correr, não é?”

“Técnico, acabamos de fazer 20 minutos de sprints.”

“Não me responda, só corra. Estou falando sério. Vá, vá, vá!”

Saindo de ré do escritório, fiz o que me disseram e corri. Eu tinha tirado a proteção do peito, mas ainda estava de chuteiras, camiseta de compressão e calças acolchoadas. A aula era no terceiro andar de um prédio do outro lado do campus. Eu não tinha tempo para me trocar se quisesse chegar a tempo.

Não sabia como tinha conseguido me meter nessa confusão. Na verdade, até sabia. Foi o meu ato de rebeldia. Sim, eu sabia que iria conflitar com o treino, mas eu pensei que me daria uma desculpa para sair do treino mais cedo. Eu estava errado. E agora todo o meu futuro estava em jogo.

Entrando no prédio e nas escadas, estava completamente sem fôlego. Felizmente ninguém podia ouvir minha respiração ofegante sobre o barulho estrondoso das minhas chuteiras de metal ecoando no concreto. Não haveria como entrar silenciosamente na parte de trás da aula. Até o momento em tinha aberto a porta da sala de aula, todos já haviam se virado para ver. Havia 50 alunos e um professor irado todos olhando para mim.

“Desculpe. Por favor, continuem,” eu disse entre respirações ofegantes e muita humilhação.

Tomando o primeiro assento disponível, repousei a minha cabeça na mesa para recuperar o fôlego silenciosamente. Eu me senti de novo como se quisesse vomitar, mas não iria acontecer ali.

Depois de me recompor, sentei-me, percebendo que não tinha pegado minha mochila no meu armário. Não é como se eu tivesse o caderno para esta aula ou algo do tipo. Eu tinha desistido de frequentar há muito tempo. Mas teria sido bom ter algo à minha frente para não parecer um idiota.

Pegando meu celular, fiz o meu melhor para parecer que estava tomando notas nele. Eu não estava, porque não tinha ideia do que a professora estava falando. Parecia que todos os outros sabiam, embora. Todos estavam super concentrados na mulher que estava à nossa frente. Isto é, todo mundo estava prestando atenção, exceto uma pessoa. E quando eu a vi, não consegui respirar.

Era a Quin, e ela estava olhando para mim. Nossos olhares se encontraram por um segundo, mas então ela desviou o olhar. Tudo dentro de mim formigou. Pude sentir de imediato minha respiração ficar mais forte.

Só de vê-la já me causava algo. Eu tinha sido dado uma segunda chance com ela. Eu não iria deixá-la sair da minha vida novamente.

“E, é isso. Na próxima aula haverá um teste sobre o que estudamos nas duas últimas semanas. Estejam preparados,” a professora disse antes de voltar sua atenção para mim. “Sr. Rucker, posso vê-lo por um momento?”

Eu não estava esperando por isso. Pior, Quin estava sentada no lado oposto da sala, que tinha uma saída diferente. Ela nem estava olhando para mim e ela já teria ido embora antes que eu pudesse pedir para ela me esperar.

“Sr. Rucker,” a mulher de cabelos grisalhos e asiática chamou novamente.

“Estou indo,” eu lhe disse, mantendo meus olhos na Quin enquanto ela se aproximava da porta.

Correndo contra a corrente de pessoas, me aproximei da professora enquanto ela apagava a lousa. Ela demorava muito e isso estava me matando. Quando Quin desapareceu, meu coração afundou. Ela se foi de novo e eu me senti péssimo.

“Chegar cinco minutos antes do final da aula não é considerado frequência. Pelo menos não para mim.”

“Eu sei. E sinto muito por isso. Eu vim correndo do treino. Mas prometo que não vou chegar tarde novamente.”

“Me disseram que você precisa passar nesta aula para continuar elegível para jogar no próximo semestre.”

“Isso está correto, senhora.”

“Então eu esperaria que você levasse esta aula um pouco mais a sério.”

“E eu prometo, eu vou… a partir de agora.”

“Se você não quer estar aqui…”

“Eu quero estar aqui.”

“Por quê?” Ela perguntou sinceramente.

“Porque é um assunto que me interessa muito. Ensinar crianças é algo que sempre quis fazer.”

“E o futebol? Ouvi dizer que você tem uma carreira promissora.”

“Futebol é algo que eu sou bom. É uma bênção. Mas não é…”

Eu não acabei a frase. Essa era uma caixa que eu não queria abrir agora.

“Bem, se você está falando sério sobre essa aula, você vai ter muito o que recuperar.”

“Eu sei disso, e estou disposto a dar duro. Vou arranjar um professor particular.”

“Vai mesmo?”

“Sim, senhora. Na verdade…” disse eu, tendo subitamente uma ideia. “Podemos continuar com isso na próxima aula? Eu prometo que chegarei pontualmente.”

“É bom que chegue. Lembre-se, sua presença é obrigatória.”

“Entendido. Estou atento. Estarei aqui. Prometo”, disse eu, batendo as minhas chuteiras no carpete enquanto caminhava para a porta.

Assim que estava no corredor, olhei para as duas direções à procura dela. Ela não estava lá. Para onde tinha ido tão rápido?

A maioria dos alunos estava entrando na escada para descer. Apressei-me e juntei-me a eles. Esticando o pescoço, não consegui vê-la. Eu estava prestes a odiar a mim mesmo por não ter saído antes quando vi a silhueta de alguém que só poderia ser a Quin saindo da escada para o piso principal.

“Com licença. Com licença”, disse eu apressando-me a passar por todos.

Isso só me adiantou uns poucos segundos e, quando cheguei lá, ela havia desaparecido de novo.

Olhando para cada sala de aula enquanto passava por elas, não a vi. Estava prestes a abandonar a esperança, quando abri a porta do prédio e vi sua figura atraente se afastando. Uma onda de calor atravessou-me. Parecia um raio de sol em um dia nublado.

Correndo em direção a ela, diminuí o ritmo quando estava a alguns metros de distância. Não podia perder a compostura só porque estava prestes a falar com a garota mais bonita que já havia visto. Tinha que pelo menos fingir que beijá-la não era a única coisa em que conseguia pensar desde o momento que nos conhecemos.

“Quin?” Disse eu, tentando parecer o mais casual possível.

Ela parou e se virou. Ela não parecia tão feliz em me ver quanto eu estava em vê-la. Isso provocou uma pontada no meu peito, mas eu ignorei.

“Pensei que era você. Como você está? Foi a alguma festa bacana desde que te vi pela última vez?”disse eu com um sorriso.

Quando ela não respondeu, eu disse: “Cage. Cage Rucker. Nos conhecemos na festa do Sigma Chi.”

“Eu lembro,” disse ela friamente. Ai! Aquela pontada de dor novamente. “Como está Tasha? Esse é o nome da sua namorada, certo?”

“Tasha? Ah, sim. Ela está bem. Ela está ótima. Ei, eu fiz algo para te irritar? Se eu fiz, me desculpe,” disse eu, desejando desesperadamente ver seu sorriso.

Quin me olhou com uma expressão de frustração e depois cedeu.

“Não. Você não fez nada de errado. Não ligue para mim. Eu só tive uma noite dura.”

“Não dormiu bem?”

“Algo assim. Ou, talvez, eu esteja sendo apenas estúpida. Eu não sei.”

“Você? Sendo estúpida? Acho difícil de acreditar,” disse eu com um sorriso.

Ela me encarou de novo. Desta vez parecia que ela estava vasculhando minha alma.

“Por que você diria isso?”

“Eu não sei. Acho que você me parece alguém muito inteligente.”

Ela suavizou a intensidade do olhar.

“Eu não sou inteligente em nada que importe,” disse ela antes de continuar a andar.

Alcancei-a.

“Eu não acho isso verdade. Na verdade, aposto que você é muito boa na disciplina de Introdução à Educação Infantil. Aposto que você está entre os primeiros da turma.”

A Quin olhou para mim quando eu disse isso.

“Você está, não está?”

Quin desviou o olhar.

“Nossa. Okay. Isso tornará a próxima coisa que vou dizer menos constrangedora. Acontece que preciso dessa matéria para manter a minha elegibilidade para o futebol e, finalmente, para o draft da NFL. E, como eu não estive frequentando as aulas, estou um pouco atrasado. Eu realmente preciso de um tutor. O programa de futebol está disposto a pagar você pelo seu tempo.”

“Eu não posso ser sua tutora,” ela disse de maneira displicente.

“Por que não?”

“Eu simplesmente não posso. Lamento.”

“Tudo bem. E se eu tornar a proposta um pouco mais interessante?”

“Como assim?”

“Quando estávamos na festa, você disse que não era boa em ser sociável, o que eu não entendo porque você parecia perfeitamente confortável com isso.”

“Eu estava apenas confortável porque…”

“Por causa de quê?” perguntei, na esperança de que ela dissesse: por causa de mim.

“Nada.”

“Bem, se você estiver disposta a me ajudar no que você é boa, eu posso ajudar você no que sou bom.”

“Você quer dizer ser um astro do futebol que todo mundo quer se aproximar.”

“Primeiramente, ai. Em segundo lugar, há muito mais em mim do que isso.”

“Eu sei. Me desculpe. Vê, eu não sou boa nisso,” desabafou a Quin.

Tomei sua mão da maneira mais casual possível. Tentei fingir que esse era apenas algo que eu fazia quando falava com as pessoas, mas a verdade era que eu estava morrendo de vontade de segurar a mão dela.

“Você é boa nisso. Além disso, você pode ser. Deixe-me ajudá-la. Eu sei que posso ajudá-la com isso. E quando você terminar, será uma estrela do futebol que todo mundo quer se aproximar, como eu”, eu disse com um sorriso maroto.

Quin riu. Eu estava tão emocionado que pensei que meus dentes iam cair.

“Então, o que você acha?”

Quin olhou para mim, pensativa. À medida que o fazia, algo estranho aconteceu. Parecia que os olhos dela ganharam profundidade e então perfuraram a mim.

Parecia que ela estava sondando minha alma. Quando o fez, algo em mim se acendeu. Não consigo explicar o que estava acontecendo.

Ela estava sentindo isso também? O que ela estava fazendo comigo? O que estava acontecendo entre nós? Fosse o que fosse, me tirava o fôlego.

Quando ela finalmente relaxou o olhar, inspirei desesperadamente. Retirando a mão das minhas, ela não foi sutil. Minha cabeça ainda estava girando, mas acho que ela estava tentando mandar uma mensagem sobre limites. Tudo bem, eu poderia respeitar isso.

“Okay,” disse Quin com um brilho de maravilha nos olhos.

“Okay?” Repeti ainda me recompondo.

“Okay”, ela confirmou com um sorriso cada vez maior.

“Ouvi dizer que tem uma prova nos próximos dias,” eu disse, recuperando minha postura.

“É em dois dias e cobre duas semanas de matéria.”

“Isso parece muito.”

“É,” ela confirmou.

“Parece que seu trabalho como tutora deve começar imediatamente,” eu sugeri, de repente querendo passar todos os momentos acordado com ela.

“Que tal hoje à noite? Vou preparar um plano de aula e partiremos daí.”

“Um plano de aula? Você não brinca em serviço.”

“Não brinco. Você também não pode, se quiser passar na prova.”

“Eu não vou brincar.”

Quin hesitou. “E você não tem nenhum compromisso com a sua namorada ou algo assim, tem?”

Ser lembrado de Tasha foi como um balde de água fria na minha empolgação descontrolada de passar a noite com Quin. Meu sorriso diminuiu.

“Mesmo que eu tivesse algo, eu cancelaria. Passar na disciplina e jogar futebol vêm em primeiro lugar. Ela entenderia.”

“Tudo bem. Então te vejo hoje à noite.”

“Devo pegar seu número?” Eu perguntei a ela, não perdendo a oportunidade.

“Sim. Me dê o seu telefone.”

Eu passei para ela, e ela digitou. Um segundo depois escutei um telefone tocar em sua mochila.

“Você sabe onde eu moro. Vou te enviar uma mensagem com o horário e o número do meu quarto,” disse Quin, profissionalmente.

“Então vamos fazer isso na sua casa?”

“A menos que você tenha um lugar melhor. Acho que poderíamos ir à biblioteca, mas não sei o quanto eles permitiriam a gente conversar.”

“Não, sua casa é ótima. Estou ansioso.”

“Você está ansioso para estudar?” Ela perguntou, me lembrando que isso não era um encontro.

“Certo. A Introdução à Educação Infantil é o que eu vivo. Pergunte a quem quiser.”

Quin riu. Derreteu meu coração.

“Vejo você então, Covinhas,” ela disse com um sorriso antes de se virar e sair. Cara, eu estava em apuros.

 

 

Capítulo 3

Quin

 

“Vejo você então, Covinhas?” Eu realmente disse isso? O que eu estava pensando? O que eu estava pensando em concordar com qualquer uma dessas coisas?

Dizer que a noite anterior tinha sido difícil era o eufemismo do ano. Fui encurralada, impotente no corpo da minha loba por horas. Não acabou até as duas adormecerem.

De manhã, eu não estava coberta de sangue e não acordei em um lugar desconhecido. Eu estava no meu quarto, na minha cama. Sim, a porta estava totalmente arranhada por suas garras. Mas não tinha sido aberta, mas estava claro o quão perto minha loba esteve de sair.

Com mais uma tentativa, ela teria conseguido. Ela teria se libertado e quem sabe o que teria acontecido depois. Mas não. Ela não deu a última tentativa.

Mais do que isso, durante toda a manhã, não consegui me livrar da sensação de que ela ainda não havia ido embora de vez. Parecia que ela estava me observando por cima do ombro, vendo tudo que eu fazia. Foi ela quem me disse que Lou havia saído no meio da noite. Ela até podia me dizer a hora que ela fez isso. Não sei como, mas minha loba sabia.

Ao ver Cage entrar na sala de aula, pareceu que as orelhas dela se arrepiaram. Ela parecia gostar de Cage ainda mais do que eu.

Mas eu não sou escrava dos desejos dela. E fui eu quem foi apresentada a sua namorada, não ela. Então, não tinha como eu ir lá, principalmente considerando o que ele e a namorada trouxeram à tona em mim.

Eu estava disposta a desistir do Cage e nunca mais vê-lo. Aí ele me perseguiu, e fez aquela proposta. O motivo de eu ter aceito, não tinha nada a ver com o que minha loba queria. Também não tinha a ver com aquela estranha conexão que senti olhando nos olhos dele.

Eu aceitei sua proposta porque Harlequin Toro tinha vindo para o meio do nada em Tennessee por um motivo, para descobrir como ter uma vida. Claro, eu não poderia ter uma com Cage. Mas, quando andei pela festa com ele, foi o mais relaxada que me senti numa situação social em minha vida.

Eu precisava saber como sentir isso por mim mesma. E, quando estava olhando nos olhos dele, algo me disse que ele poderia despertar isso em mim. Como eu sabia disso? Eu não sei. Mas tinha certeza disso.

Poderia ter sido minha loba brincando com minha mente para seu próprio propósito nefasto? Isso era sempre uma possibilidade – eu tinha acabado de conhecê-la. Ela era algo sobre o qual eu só ouvi histórias antes. – Mas, eu acho que não. Havia algo mais acontecendo com Cage. Eu não tinha como adivinhar o que era.

Seja lá o que for, estava me atraindo para ele. Não era só o quão atraente ele era. – Não pense que de repente superei isso. Ele ainda era um deus lindíssimo. – Mas … eu não sei.

Havia mais ali que eu não conseguia identificar. Estava me dizendo para aceitar a proposta dele. E, assim que o fiz, minha loba ficou louca. Não de uma maneira perigosa. De uma maneira que me fez sorrir.

“Lou, você voltou?” Eu disse ao reentrar em nosso apartamento e encontrá-la parecendo perturbada.

“Eu não deveria estar?”

Ela estava sentada à nossa mesa de jantar, aterrorizada, mas tentando parecer corajosa. Uma onda de tristeza me inundou ao vê-la tão assustada. Pela primeira vez, eu ouvi como minha loba soava quando estava tentando chegar a alguém. Era aterrorizante.

Se eu fosse a pessoa que tinha ouvido a arranhadura na porta enquanto a besta tentava chegar até mim, provavelmente nunca teria voltado. No entanto, ela estava aqui. Por que voltou? Por que alguém voltaria depois de ver essa parte de mim?

“Não, você deveria estar de volta. Este é o lugar onde você mora … Devo ir embora?” perguntei, percebendo que ela poderia ter voltado apenas para reivindicar o lugar.

“Devo ir embora?”

“Eu não sei. Devo ir embora?”

“Ok, eu acho que não estamos chegando a lugar algum,” disse ela, lidando com isso muito melhor do que eu poderia ter imaginado. “Olha, eu sei que você me falou sobre a sua condição. Mas, você disse que não teve um episódio há anos. Você disse que havia passado.”

“Eu pensei que havia,” respondi, acomodando-me numa cadeira de frente para a dela.

“Então, o que foi aquilo?”

“Eu não sei.”

“Aconteceu por causa da lua cheia?”

Ouvi a minha loba rosnar diante da sugestão. “Não!” respondi com raiva. Assim que disse, minha mente divagou. “Pelo menos, eu acho que não.”

“Bem, você está morando aqui há meses e essa não foi a primeira lua cheia.”

“Não foi. Foi?”

“Então, o que fez a diferença dessa vez?” Lou perguntou como se estivesse preocupada comigo em vez de sua própria segurança.

Refleti sobre a pergunta dela. O que tinha sido diferente? Eu não tinha certeza, mas tinha uma ideia. Peguei meu telefone na bolsa e encontrei a foto da noite passada. Coloquei-a na mesa entre nós.

“Quem é esse cara?”

“Seu nome é Cage. Eu o conheci na festa que fui.”

“Por que você parece tão… devastada?”

“Porque a namorada dele tirou a foto.”

Os olhos de Lou subiram até encontrar os meus.

“Ah, eu sinto muito, Quin. Fui eu que fiz isso, não foi? Te manipulei para ir àquela festa e você acabou com o coração partido e… recaiu.”

“Nada disso foi culpa sua. E, mesmo que fosse, nada aconteceu. Ninguém se machucou.”

“Mas, alguém se machucou, Quin. Você.”

Não sabia o que dizer àquilo. Queria negar, mas era verdade. Será que foi por isso que eu me transformei? Ela saiu para me proteger? E, se o fez, o que ela teria feito uma vez liberta? Eu não queria pensar nisso.

“Você não pode estar aqui esta noite?”

Os dedos de Lou pressionaram o vidro com medo. “Vai acontecer de novo?”

“Não! Pelo menos, eu acho que não. Não. Eu tenho alguém chegando.”

“Quem?”

“Cage.”

A boca de Lou se abriu em confusão.

“É apenas para estudar. Estou dando aulas para ele numa matéria que fazemos juntos.”

“Você tem uma aula com ele?”

“Aparentemente. Hoje foi a primeira vez que ele apareceu. Estava usando seu equipamento de futebol,” disse eu, incapaz de segurar o sorriso que se formava em meu rosto.

“Você quer dizer, aqueles justinhos que os jogadores de futebol usam.”

“Ah-uh,” respondi sentindo meu rosto esquentar.

“Oh! Ele não está vindo só para estudar, está?”

“Não, ele está,” respondi, trazendo as coisas de volta à realidade. “Ele precisa passar na matéria para jogar futebol no próximo semestre, e ele me pediu para ajudá-lo.”

“Então, você está segurando a vida dele em suas mãos poderosas, porém delicadas?”

Olhei para minhas mãos, pensando no que ela queria dizer.

“Quer dizer, não realmente. Mas, meio que sim.”

“Meu Deus, vocês dois vão se beijar.”

“O quê? Não, não vamos.” Mesmo dizendo isso, senti minha loba correr com excitação. “Não! Ele tem uma namorada,” disse eu deixando isso claro para todos ouvindo.

“Talvez ele queira que você se junte a eles.”

“Ah, não,” respondi firmemente.

“Então, vamos ter que separá-los?” Lou perguntou com um olhar diabólico voltando aos olhos dela.

“Não, não vamos!”

“Você não vai comer ela, vai?” Ela perguntou hesitante.

“Não! Só não, para tudo isso. Se ela é quem ele quer estar, então… tudo bem. Eu estou bem com isso.”

“Quanto isso doeu para dizer?” disse ela, de repente me olhando com simpatia.

Parei por momentos e deixei minhas palavras se assentarem. “Muito. Mas, terá que ser verdade. Eu não quero estar com alguém que não queira estar comigo.”

“Você é uma pessoa melhor do que eu,” disse Lou desistindo.

“Eu não sei se sou melhor, mas sou muito mais sozinha.”

“Ahhh!” Lou disse, olhando para mim com uma empatia sincera. Depois de um momento, Lou se levantou, circulou a mesa e me abraçou. Com os braços ainda envolvidos em torno de mim, ela disse, “Esse garoto vai ser a nossa ruína, né?”

“Provavelmente.”

“Bem, quando o que aconteceu ontem à noite estiver me destruindo, só me promete uma coisa,” Lou pediu casualmente.

“O que é isso?”

“Não o rosto, açúcar. Não o rosto.”

Eu ri, me sentindo muito melhor.

 

 

Capítulo 4

Cage

 

Eu posso fazer isso. Posso passar um pouco de tempo com Quin, não me apaixonar loucamente por ela e não arruinar minha vida inteira para ficar com ela. Tenho certeza que consigo. Embora, quanto mais perto chegava a hora do nosso encontro, mais claro ficava que eu não ia ter que me preocupar com isso.

Como é que todos os caras não vêem o que eu vejo nela e não a conquistam? Eu não entendo. A garota é linda e adoravelmente desajeitada. Eu poderia passar meus dedos pelos seus cabelos escuros e ondulados até me perder neles.

Ah, e seus olhos. Nem comece a falar de seus olhos, aqueles olhos alma, eletrizantes. Só de pensar neles já me deixa tão excitado. Como ela consegue fazer isso comigo?

É como… o que é aquilo que os animais liberam para atrair um parceiro? Feromônios? É como se ela estivesse liberando feromônios e eu não pudesse fazer nada para resistir.

Eu realmente não deveria tê-la pedido para me dar aulas particulares. Ela provavelmente era a última pessoa que deveria ter perguntado. Como conseguirei me concentrar com ela ao meu alcance? Foi um grande erro. Mas, não vejo a hora. E o tempo jamais passou tão devagar em minha vida.

Eu esperei no The Common pelo nosso horário de encontro, em vez de dirigir para casa e voltar. Ficar com a Tasha também poderia ter sido uma opção, considerando que ela vive no andar acima do de Quin.

Mas as chances eram de que Tasha estava de papo com a Vi.

As duas eram inseparáveis. Não é de se espantar que Tasha tenha sugerido que Vi se juntasse a nós para o sexo. Elas faziam tudo juntas. Por que isso seria diferente?

Depois da longa e dolorosa espera para eu ir até lá, apressei-me, atravessando o pátio. Entrei no prédio enquanto alguém saía, subi as escadas dois degraus por vez e bati na porta dela. Ouvi alguma movimentação antes de uma voz desconhecida dizer: “Só quero ver” e a porta abrir.

“Oi,” eu disse para a menina com aparência travessa à minha frente.

“Lou. Prazer em conhecê-lo”, ela respondeu sem me oferecer a mão ou me convidar a entrar.

“Cage.”

“O astro do futebol?” Lou disse com um sorriso.

“Acho que sim. Quin está aqui?”

“Está. Mas primeiro, duas perguntas. Quais são suas intenções com minha amiga? E, você se considera uma pessoa que gosta mais de cachorros ou de gatos?”

“Q-uê?”

“Lou!” Quin gritou lá de dentro. Empurrando Lou e se colocando entre nós, Quin disse: “Desculpe por isso. Ela estava de partida.”

O corpo da Quin estava tão perto do meu.

“Isso é bom. Lou, eu convidaria você para ficar e curtir, mas temos duas semanas de trabalho de aula para rever… A menos que Quin acha que podemos fazer os dois?”

“Não dá para fazer os dois e a Lou estava indo embora. Tchau, Lou.”

“Inté,” Lou disse, se esgueirando e passando por mim, deixando que Quin me convidasse para entrar.

“Desculpe por isso. A Lou tem boas intenções.”

“É sempre bom ter um amigo que cuida de você.”

“Com certeza. Então, seja bem-vindo ao meu quarto.”

Olhei ao redor. “É assim que a outra metade vive?”

“Como assim?”

“Os dormitórios Plaza são bem chiques.”

“Sua namorada não mora aqui também?”

“Sim, mas isso não a torna menos impressionante. Além disso, ela tem duas colegas de quarto e precisa dividir um quarto. Seu lugar é melhor decorado que minha casa.”

“Você mora na fraternidade?”

“Não. Não sou membro. Eu sei, um jogador de futebol que não pertence à Sigma Chi, impensável. Mas a vida na fraternidade estava fora do meu orçamento.”

“Onde você mora?” Quin perguntou me conduzindo ao sofá da sala.

“Em casa com meu pai.”

“Não com a sua mãe?” Quin perguntou enquanto reunia alguns livros e se sentava ao meu lado.

“Minha mãe morreu quando eu nasci.”

Quin congelou. “Sinto muito.”

“Não precisa sentir. Isso aconteceu há muito tempo.”

“Então, sempre foi apenas você e seu pai?”

“Isso. E às vezes só eu.”

“Como assim?”

“Nada. Devemos começar a estudar. Acho que temos muita coisa para cobrir,” eu disse, mudando o assunto.

Embora eu nunca tenha conhecido minha mãe, o assunto ainda era delicado para mim. Principalmente porque meu pai. Ele nunca diria isso, mas acho que a perda dela afetou bastante ele. Pelo menos, era o que eu acreditava.

Quin começou mostrando-me o fluxograma mais organizado que eu já tinha visto na vida.

“Aqui está o que precisamos cobrir até quinta-feira”, ela disse, entrando direto nos negócios.

Seu foco e assertividade quase foram suficientes para me distrair do joelho dela flutuando a poucos centímetros do meu enquanto apoiava o livro didático. Ou, a fragrância viciante que emanava dela quando se inclinava para me mostrar algo na página oposta. O seu doce perfume estava enrijecendo meu membro. Ficar inclinado para a frente era tudo que eu podia fazer para escondê-lo.

“Você está se inclinando para a frente, sua coluna está bem?”

“Minha coluna? Sim. É por isso que eu fico me inclinando, por causa da coluna. Eu preciso mantê-la esticada. Você sabe, por causa do treino.”

“Se quiser, podemos ir para a mesa da sala de jantar? As cadeiras têm um pouco mais de apoio”, Quin sugeriu docemente.

“Yeah, talvez seja melhor.”

Eu estava prestes a levantar quando percebi que ainda estava extremamente excitado.

“Ah, talvez daqui a pouco.”

“Você realmente está com muita dor, né?”

“É, está doendo bastante.”

“Desculpe. Se soubesse que você estava assim, teríamos nos mexido antes. Parecerá estranho, mas eu posso te dar uma massagem se quiser. Eu aprendi a fazer há alguns anos. Não tive muita chance de praticar, mas eu acho que ainda sou bem boa.”

“Hmm…”

“Me desculpe, é estranho, né? Oferecer para te massagear é estranho, não é?” Quin se encolheu perante meus olhos.

“Não, não é estranho. Eu adoraria receber uma. Realmente aliviaria… minha coluna.”

“Tem certeza?”

“Você não faz ideia de quanto,” disse eu com um sorriso.

“Ok. Então…”

Quin olhou ao redor. “Minha cama provavelmente seria mais confortável.”

Não havia como eu me levantar agora.

“Acho que o sofá vai ser suficiente.”

“Ok.”

Quin se levantou e começou a alongar os dedos.

“Tire sua roupa até onde se sentir confortável e deite.”

Um rubor cruzou meu rosto. Ela me mandou tirar a roupa até onde me sentia confortável? A ideia de ficar nu para ela me deixava tão excitado que meu pau começou a pulsar. Deus só sabe o que aconteceria se eu tirasse as calças. Não havia como eu fazer isso. Mas eu podia tirar minha camisa.

Tirei lentamente a camisa e espiando para Quin. O jeito que ela olhou fez várias sensações tomarem conta de mim. Eu teria que pensar muito em beisebol se não quisesse gozar nas minhas calças assim que ela me tocasse. Valeu a pena o risco, porém. Eu precisava sentir aquelas mãos em mim. E quando me deitei e ela subiu em cima de mim, eu estava no céu.

Com ela puxando e amassando meus músculos, perdi-me. Jesus, isso era bom. Era melhor do que sexo, pelo menos, qualquer sexo que eu já tivesse tido. E não demorou muito até eu sentir um formigamento familiar nos meus testículos e subindo lentamente.

Oh meu Deus, eu estava gozando.

“Preciso ir ao banheiro”, eu disse, arremessando a pequena garota no sofá.

Felizmente, eu sabia onde ele ficava e estava destrancado. Jogando a porta atrás de mim, eu mal consegui abaixar minhas calças rápido o suficiente antes de explodir num orgasmo.

Eu gemi, lutando contra o grito de prazer. Consegui segurar a maior parte na minha mão, ao invés de lançar por todo o teto. Mas junto disso veio uma tontura que me fez cair com tudo no chão. Eu caí com um baque.

 

 

Capítulo 5

Quin

 

“Está tudo bem aí dentro?”, eu perguntei escutando o que parecia ser a prateleira de toalhas se quebrando e então alguém caindo no chão.

“Está tudo bem”, Cage gritou de volta. “Mas eu acho que quebrei alguma coisa. Desculpa por isso.”

“Não se preocupe com isso, seja o que for. Você tem certeza de que está bem?”

“Sim. Só preciso de um segundo.”

O que raios eu estava fazendo? Esse não era eu. Eu não oferecia massagens a caras. Eu não pedia para eles despirem-se para mim. Era só que tinha um aroma vindo dele que eu mal conseguia resistir. Eu não conseguia identificar do que se tratava, mas me fazia pensar em sexo.

Mas sentar em cima dele claramente o assustou. Eu sei que sim. Foi por isso que ele me jogou para longe e correu para o banheiro como se tivesse pegado fogo no cabelo.

Tinha que ser ela fazendo isso comigo. Era minha loba assumindo de novo. Mas, ao menos era melhor do que se transformar e rasgar a garganta dele. Eu estava progredindo. E não era tão estranho oferecer uma massagem se alguém dizia que a lombar doía, era?

Ah! Eu não sei. Eu não sei de nada. Por que eu sou tão ruim nisso? Talvez seria melhor se eu deixasse minha loba fazer o que estivesse em mente. Não poderia terminar num desastre pior do que eu já havia criado.

“Você tem certeza de que não precisa de ajuda aí dentro?”

“Eu estou me virando”, Cage disse antes de ligar a torneira e finalmente sair.

Caramba, ele estava lindo lá parado com a camiseta desabotoada. Seus ombros musculosos, seu peito espesso, seus abdômen. Como ele tinha abdômen sem se esforçar? Ele estava apenas parado lá. Como?

Me olhando com os olhos mais derretedores de coração de um filhote, ele disse, “Desculpe por isso”.

“Não, me desculpe”, eu disse me sentindo mal por cruzar a linha.

“Por que você deveria se sentir mal”, ele me perguntou como se não soubesse.

“Você sabe, por que…”

“Por que você se disponibilizou para me ajudar numa disciplina que eu preciso passar para ter qualquer tipo de vida, e eu que deixei tudo estranho?”

“Você deixou tudo estranho? Eu sou a rainha do estranho.”

“Você pode até ser a rainha de algo, mas isso foi culpa minha. Olha, por que não voltamos a estudar.”

“Como está sua lombar?”

“Está bem melhor agora, obrigado”, ele disse pegando sua camiseta e colocando-a. “Aquilo ajudou muito. Eu consigo me concentrar agora. Estou também um pouco sonolento, mas consigo me concentrar.”

Continuando de onde paramos, eu tentei meu melhor para acalmar os impulsos vindos da minha loba muito feliz. Ela amava estar perto de Cage. Eu não podia culpá-la. Eu também amava.

Mas felizmente, mesmo que tivéssemos muito material para cobrir, conseguimos passar por uma boa parte dele até a volta de Lou.

“Ainda nessa? Vocês dois são como cão e osso, não são?”, Lou disse brincando.

Cage olhou para Lou desconfortável.

“Sim, eu deveria ir.”

“Não me deixe atrapalhar vocês,” Lou disse. “Vocês nem saberão que estou aqui.”

“Ou, nós apenas poderíamos ir ao meu quarto,” eu sugeri.

“Não!” ele disse abruptamente. “Quero dizer, talvez possamos continuar amanhã. Tem muita coisa girando aqui em cima e eu preciso processar tudo isso”, disse ele circulando as mãos em volta da cabeça.

“Ah, sim. Dormir ajuda a reter informação. Amanhã então. Se você quiser começar mais cedo, minha última aula termina às quatro.”

“Parece ótimo. Que tal nos encontrarmos na sala de estudos na próxima vez? Assim não atrapalhamos a Lou.”

“Ah, você não precisa se preocupar comigo. Vocês dois podem fazer onde quiserem”, Lou adicionou enquanto ela ficava em pé nos observando.

“Sim, podemos estudar aqui”, confirmei não tenho certeza se estava pronta para sentar em público onde qualquer um passando poderia me reconhecer.

Cage gaguejou. “Acho que a sala de estudos seria melhor. Quero dizer, se estiver tudo bem para você.”

Eu me senti desapontada que eu tinha estragado tanto que ele não queria voltar ao meu quarto, mas eu entendi. Eu fiz isso e agora eu teria que lidar com as consequências.

“Não, está certo. Nós vamos cobrir o restante do material, então talvez você deva trazer alguns lanches.”

Lou adicionou, “Parece que será uma longa e dura sessão. Você gosta desse jeito, não é Quin?”

“Ok, eu vou indo. Me mande uma mensagem”, Cage disse escapando, e lançando um olhar para Lou.

“O que foi isso? Ok, eu entendi a coisa do cão e o osso. Muito engraçado. Haha. Mas dizer, eu gosto de sessões longas e duras?” eu perguntei a Lou chateada.

“Muito longas,” ela disse com um sorrisinho maroto.

“O que você estava fazendo?”

“Você não aconteceu de ver o que eu vi quando ele se levantou, viu?”

“Quando ele se levantou? O que você viu?”